Por que os partidos não têm vergonha alguma de recrutar candidatos que dizem coisas como 'o povo não é palhaço, mas eu sou'? Por Hugo Souza
“O povo não é palhaço, mas eu sou”. Este é um dos slogans do candidato do PR-SP a deputado federal Paulo Francisco Everardo Oliveira Silva, mais conhecido como Tiririca. Mas é exatamente este papel, o de “abestado”, que o povo corre o risco de fazer caso acredite que um voto em Tiririca, que virou ícone do candidato-piada, é um voto de protesto “contra tudo isto que está aí”, como o atual presidente da República gostava de repetir quando ainda fazia oposição.
O sistema brasileiro de escolha dos administradores e legisladores públicos se divide em majoritário e proporcional. No majoritário, é eleito o candidato que obtiver a maioria (absoluta ou relativa) dos votos em determinada circunscrição eleitoral. No Brasil, os governadores, prefeitos e o presidente da República são escolhidos através do sistema majoritário por maioria absoluta, com possibilidade de segundo turno. Senadores também são eleitos majoritariamente, mas por maioria simples, sem possibilidade de segundo turno.
Os vereadores e deputados estaduais e federais são escolhidos por meio do sistema proporcional, quando o número de cargos eletivos é distribuído na proporção dos votos recebidos pelos diferentes partidos e coligações em cada eleição. Funciona da seguinte maneira: divide-se o número de votos conquistados por cada legenda ou coligação pelo quoeficiente eleitoral, que por sua vez é o resultado da divisão do total de votos válidos pelo número de cadeiras a serem preenchidas. O resultado se chama quoeficiente partidário, que nada mais é do que o número de vagas que cada agremiação política ocupará nas diferentes casas legislativas.
Trocando em miúdos: quanto mais votos um partido ou coligação tiver, mesmo que concentrados em um candidato apenas, mais políticos este partido ou coligação irá eleger. Na prática, isto significa que, antes de votar em um candidato a deputado, o eleitor vota em uma legenda, isolada ou coligada. É aí que entra o Tiririca.
‘Anticandidatura’, candidatura útil
O ex-jogador Romário é candidato a deputado federal pelo PSB
Não só o Tiririca. Para eleger o maior número possível de representantes no sistema proporcional, os partidos apostam em candidatos puxadores de votos como a dançarina Mulher Pera, a funkeira Tati Quebra Barraco e o ex-jogador de futebol Romário, entre outros tantos que se apresentam no horário eleitoral em nítido contraste com os chamados políticos profissionais.
Funkeira Tati Quebra Barraco tenta se eleger como deputada federal pelo Partido Trabalhista Cristão
Em vez de recitar números sobre a economia, a saúde e a educação, como fazem os candidatos “sérios”, por assim dizer, eles costumam pedir votos surfando na simpatia popular alcançada com atividades que nada têm a ver com a política. Sobre o próprio Tiririca, não se sabe ao certo se ele é humorista, cantor ou apresentador. O que o PR sabe bem é que ele pode acabar recebendo tantos votos quanto o necessário para carregar consigo correligionários que tenham votações menos expressivas do que as de concorrentes filiados a outros partidos. Tanto que Tiririca ficou com o número de candidatura do PR mais fácil de decorar, o 2222.
E os candidatos caricatos já se atacam na TV, de olho no mesmo público-alvo, ou seja, aqueles eleitores que veem neste tipo de candidato uma alternativa à sua disposição de votar nulo ou em branco. O ex-pugilista e candidato a deputado federal por São Paulo Maguila (PTN), por exemplo, já apareceu esmurrando um saco de areia caracterizado como seu adversário do PR.
Há também políticos “de verdade” com pudores suspeitos. Aloisio Mercadante disse que Tiririca representa a “anticandidatura”. Mas que o puxador de votos do PR, partido coligado com o PT em São Paulo, pode ajudar a engordar a base de apoio a um eventual governo Dilma, isso pode.
Além dos candidatos caricatos, velhos caciques políticos também são bons de eleger correligionários, além de si próprios. Talvez valesse a pena o TSE esclarecer melhor o distinto público sobre as armadilhas da eleição a reboque. Como diria o candidato Maguila, “a política é uma faca de dois legumes”…
Caro leitor,
Você está entre os que consideram candidaturas como as de Tiririca e Maguila afrontas inaceitáveis ao processo eleitoral?
Ou você acha que Tiririca e seus congêneres são apenas o lado mais espalhafatoso de eleições marcadas pela demagogia, falta de seriedade e discursos formulados por marqueteiros?
Você votaria nestes candidatos como forma de protesto, mesmo sabendo que eles são armadilhas colocadas pelos partidos para puxar votos a seu favor?
Fonte: http://opiniaoenoticia.com.br/brasil/politica/puxadores-de-votos-sao-faca-de-dois-legumes/?optin
Nenhum comentário:
Postar um comentário