É fato que quem tem o poder, governa! E para governar o controle sobre a informação e a massa, são imprescindíveis. Resta saber o que as morsas, aves, peixes, moluscos, plantas e todos os demais seres vivos que enfrentam esse vazamento gigantesco de petróleo, poderão esperar de nós seres humanos, para retomarem o direito de viver dignamente, plenamente e acima de tudo saudavelmente!
Primeiro o vazamento de petróleo; agora, o vazamento de desculpas
Mike Littwin
Do The Denver Post
Naquele que os historiadores poderão lembrar como um momento pioneiro na era dos pedidos públicos de desculpas, Joe Barton, o congressista do Texas, pediu oficialmente desculpas por ter pedido desculpas.
Ele retirou suas desculpas. Ele lamentou sua lamentação. Ele sentia muito ter mencionado que sentia muito. Tudo o que posso pensar é que parece algo como assistir “Oprah” de trás para frente.
Talvez o mais estranho na história toda seja o fato da retirada do pedido de desculpas por Barton ter sido apenas uma das muitas coisas estranhas que ele fez naquele dia.
O drama teve início com o presidente-executivo da British Petroleum (BP), Tony Hayward, supostamente o vilão da história, depondo em uma audiência de um subcomitê da Câmara na qual Barton é o líder da bancada republicana.
Nós esperávamos ouvir um pedido de desculpas de Hayward --para as pessoas comuns, para a vida selvagem (incluindo aquelas morsas desobedientes) e para o restante de nós. E ele não decepcionou, de certa forma. Ele assumiu parte da culpa, apesar de ter evitado a maioria das perguntas. Em outras palavras, foi como qualquer outra audiência do Congresso na qual o bandido tenta evitar qualquer responsabilidade real. De fato, o depoimento de Hayward saiu diretamente do manual de desculpas “sim, eu sinto muito, mas se você olhar atentamente verá que realmente não foi minha culpa”.
O que não esperávamos foi a expressão de lamentação de Barton que se seguiu, na qual ele pediu desculpas a Hayward por, eu não sei, sujar uma grande extensão da costa americana.
Isso mesmo. Barton pediu desculpas ao sujeito cuja plataforma da empresa explodiu, matando 11 funcionários e causando o que agora é rotineiramente chamado de pior desastre ambiental da história americana.
Por que não simplesmente dizer: “Obrigado, senhor, poderia me trazer outro?”
Aqui está o motivo para o pedido de desculpas de Barton a Hayward: foi porque o presidente Barack Obama teve a coragem de fazer a BP concordar em depositar US$ 20 bilhões em uma conta de caução para indenização das vítimas do vazamento catastrófico.
Foi uma atuação notável, até porque os políticos passam rotineiramente suas vidas tentando desesperadamente não ofender os eleitores. E aqui estava Barton dizendo aos americanos que, nesta ofensa, as verdadeiras vítimas eram as grandes companhias de petróleo.
Barton --um antigo político do petróleo-- chamou o fundo de US$ 20 bilhões de “caixa dois” resultante de “extorsão” da Casa Branca. Ele disse ter “vergonha” do que a Casa Branca fez e que fazer a BP depositar o dinheiro foi --eu não estou brincando-- uma “tragédia”.
Eu imagino que a única pessoa mais feliz do que Hayward em ouvir o lamentação de Barton foi Obama. Os democratas há semanas tentam mostrar que os políticos republicanos estavam do lado das companhias de petróleo.
E então Barton se apresenta para comprovar.
Ele não é o único, é claro. Você pensaria que o desembolso de US$ 20 bilhões pela BP, que não sairão do bolso dos contribuintes, seria uma coisa boa. Mas a deputada Michele Bachmann, republicana de Minnesota, disse que os US$ 20 bilhões eram “um fundo de redistribuição de riqueza” e vários conservadores chamaram a ação de política ao “estilo de Chicago”.
Isso aparentemente vem de um tema ao estilo festa do chá de que o que Obama deseja é dominar as grandes corporações ou possivelmente o mundo.
As pessoas que perceberam imediatamente o dano foram, é claro, outros políticos republicanos. Alguns deles queriam remover Barton de sua posição no subcomitê. Outros, eu estou certo, queriam fazer pior.
A liderança republicana na Câmara aparentemente forçou Barton a fazer o pedido de desculpas por seu pedido de desculpas e promete não terminar aí.
Nós vivemos na era do pedido de desculpas. Mas geralmente é Tiger Woods, um governador que perdeu o rumo, um atleta pego usando esteróides, um candidato que não se lembra do que fez durante a Guerra do Vietnã ou uma pessoa pseudo-célebre que furta em lojas.
Frequentemente, é claro, é Bill Clinton. Às vezes é o árbitro Jim Joyce da liga de beisebol.
Há, como sabemos, níveis diferentes de desculpas. Aquele que foi aperfeiçoado nos últimos anos é o “eu peço desculpas a todos aqueles que foram ofendidos”. Mas Barton não podia se limitar a isso.
Em seu primeiro pedido de desculpas pelo pedido de desculpas, ele disse que a BP foi responsável pelo acidente e “se qualquer coisa que eu disse nesta manhã possa ser mal compreendido no sentido oposto, eu quero pedir desculpas pela má compreensão”.
Mas a tentativa mal compreendida/má compreensão não surtiu efeito, e então Barton resolveu ir além. Se Obama tem a responsabilidade final por assegurar o fim do vazamento, os republicanos estavam trabalhando arduamente para por fim ao sangramento.
“Eu peço desculpas por usar o termo ‘extorsão’ para as ações de ontem da Casa Branca em minha declaração de abertura nesta manhã, assim como retiro meu pedido de desculpas à BP”, disse Barton.
E lá estava --o pedido de desculpas pelo pedido de desculpas. Eu não sei se esta é uma primeira vez. Tudo, eles lhe dizem, já aconteceu antes.
Mas se amar significa nunca precisar dizer que você sente muito, o que significa quando você precisa dizer que sente muito por ter dito que sente muito?
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